sexta-feira, 28 de março de 2008

A Vida Se Repete... Repete... Repete...


Ontem choveu, choveu... Molhou, molhou... Mas eu tô aqui! Bem seco e sedento de água, água, muita água... O camelo parou, parou... Mas eu tô aqui! Bem seco e sedento... A porta bateu, bateu... O tênis pintou, pintou... As horas passou, passou... E tô aqui! A fome cortou, cortou... O tesão brochou, brochou...
E um banho tomei! Bem seco e sedento... Mas eu tô aqui! Bem aqui!

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Zé Beto Silva Só

segunda-feira, 24 de março de 2008

Coisas que aquecem o coração


Obrigado filha...

Melhor páscoa de minha vida.

(Trecho/introdução da peça “E Éramos Todos Thunderbirds” de Mário Bortolotto escrita em 2001)


E éramos todos invencíveis. Com nossas coleções de figurinhas. O tênis Kichute. As balas Apache e os desenhos do Zé Buscapé. Éramos orgulhosos de nossas cicatrizes. Da Nádia Lippi. Da Rose di Primo. Do pai bebum. De nossas bravatas adolescentes. Do Rivelino, do Clodoaldo e do Tostão. A gente queria era bandido na seleção. A gente queria o Troféu Abacaxi. A gente queria Rita Cadilac na televisão. A gente queria panqueca no café da manhã e vinho Sangue de Boi. Boquete da Lurdinha no Fusquinha. Nosso ideal de vida era um salão de sinuca. Ninguém queria ser publicitário. Ninguém queria lavar pratos em Nova York. Ninguém queria comer sashimi nem tomar santo daime. A gente queria era ver a Linda Blair dar um 180 na responsa. Cult pra gente era James Russel, malandro.
Éramos punheteiros. Jamais onanistas. Éramos consumidores de penicilina. Amantes de estrias. Nossos troféus eram bandagens amarelas. A gente ia tirar a Penélope das garras do Tião Gavião.
Éramos iconoclatas. A gente queria pôr no rabo dos gurus, das socialites e dos corredores de formula 1. Era um tempo em que o mundo se dividia em fodões e cuzões.
A gente não usava boca de sino. Não dançava em discotecas e nossos heróis não morriam de overdose. A gente morria da dor de existir.
Éramos todos Mirisolas. Éramos todos Beavis & Butt Head. Éramos amargos, ressentidos e cheios de raiva. Éramos cínicos e orgulhosos. Éramos de um tempo em que todo mundo queria ser centroavante.
Estamos velhos e nostálgicos. Estamos chapados e nocauteados. Detonados no sofá encarquilhado. O babaca de branco já contou até 10. Então foda-se. Isso a gente ainda pode falar. Baixinho, mas pode. Foda-se.
Mas ainda vamos chutar alguns traseiros.
Éramos o caralho!

Mário Bortolotto

Turnos

De forma construtora
Nasce a manhã fria
De fora prematura revela
Criança a tarde cinza
Coisa nativa consome olhos
Velhos a noite apronta
De graça contamina saudade
Fetos cobertor mãe
Madrugada toda

Zé Beto Silva Só
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ps. Mas não esqueça! Se quiser, você ainda pode andar nos “trilhos”...

PROCURADO


sábado, 22 de março de 2008

Um dia...


Um dia. Meu pai me disse, quando tirei pela primeira vez meu bigode... _Seja homem meu filho e me dê um beijo. Dei, mas é tão difícil ser homem...
Um dia. Minha mãe me disse, quando quis sair de casa pela primeira vez... _Sempre que precisar a mãe estará aqui. Precisei e quero teu colo, cadê?...
Um dia, A mulher que amo me disse, durante uma crise existencial minha... _ Seja querido. Tô tentando, tô tentando...
Um dia. Minha filha disse, depois de ter pedido um beijo aqui no “véio gordo”... _ Sim pai, mas tu não é véio e nem gordo. Obrigado filha, mas na hora certa escolha um asilo com jardim...
E um outro dia, o quê dirão?...
Zé Beto Silva Só

quarta-feira, 19 de março de 2008


Prometo Terminar

Quem sabe escrevo algo que preste...
Não sei, acho que não...
É tão bom o que não presta:
O brinquedo quebrado,
O cigarro amassado,
O espelho trincado,
O bife mal passado,
O cabelo despenteado,
Os óculos arranhado,
O teu nu todo molhado,
O poema terminado,
Terminei, e não prestou...

Zé Beto Silva Só

Temporal Derrotado

...E os óculos escuros me falta faz.
O telefone me olha, mas não toca.
O clipes e o grampo: separações causadas com marcas e rasgos...
...E o que sobrou do papel, eu comi.
O tempo do fósforo difere do cigarro, mas o temporal eu derroto.
Por quê as legendas no cinema são brancas e no vídeo são amarelas?
Devolva meu Neruda que você me tomou e nunca leu. (plágio do Chico)
De qualquer forma, meu presente espera a tua presença... (essa é pra ti).

Zé Beto Silva Só

Marlboro vermelho, meu companheiro...


Estava eu, tomando banho do sol na sacada de minha filha. Só de cuecas, fumando um cigarro, pensando no cachimbo e no dia que começava... estava eu, querendo um café forte, uma massagem bem feita pela mulher que amo, com meu riso amarelo de pensar bobagem... estava eu, com uma fome de leão, pensando num xis acebolado as oito e meia da manhã, e no texto novo que tenho que decorar... estava eu, numa vontade de correr pelas ruas barulhentas da manhã... mas o pulmão não permite mais... estava eu querendo dar aula, só pelo prazer de ser ouvido com atenção e ainda ser pago pra isso...estava eu, pensando enquanto fumava nos atrasos de meus livros e filmes, nas brincadeiras com minha filha e no atraso de ti... estava eu, não estou mais...

Zé Beto Silva Só

quanto falta...


A Velhice...

Devo estar a ficar velho, e no entanto, sem que me dê conta, ainda me acontece apalpar a algibeira à procura da fisga. Ainda gostava de ter um canivete de madrepérola com sete lâminas, saca-rolhas, tesoura, abre-latas, e chave de parafusos. Ainda queria que o meu pai, me comprasse na feira, um espelhinho redondo com a fotografia de Yvonne de Carlo em fato de banho do outro lado. Ainda tenho vontade de escrever meu nome depois de embaciar o vidro com o hálito. Ainda caminho pela borda do passeio sem pisar o intervalo das pedras. Ainda me apetecia que o meu avô me viesse fazer uma festa ba cama... Pensando bem (e digo isto ao espelho) não sou um senhor de idade que conservou o coração de menino. Sou um menino cujo envelope se gastou.

Paulo Augusto Patoleia

(fotógrafo português)