quarta-feira, 25 de março de 2009

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

DÉDALOS - TRAILER

Trailer de Dédalos, que, se tudo correr bem, deve estreiar em março, no Teatro Municipal de São Leopoldo.



Veja mais sobre DÉDALOS AQUI.

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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

REPETECO com SOBREMESA





copiando o blog do Éver http://solourbano.blogspot.com/
posto novamente um conto meu
seguido por um conto do Éver que é continuação




CRINAS, XADREZ, CIGARROS E CONHAQUES
Zé Roberto Soares Jr.

Não tinha o que fazer em casa. Na verdade tinha, mas não tava afim... Então fui pro boteco, um que conheci há pouco tempo, uns oito anos. Sentei-me na mesa de costume (recente) e pedi o de sempre pro bodegueiro. Conhaque sem gelo. Sentou ao meu lado um cachorro de rua fugido da chuva, chovia muito, e pediu o mesmo sem gelo, o bodegueiro serviu sem pestanejar, achei estranho, mas não falei nada. Entrou no boteco seco um homem grande, muito grande e me perguntou se eu jogaria uma partida de xadrez com ele, respondi que não com a cabeça e continuei a beber com o cachorro, sem conversar, só beber. Então o homem grande foi em outras mesas achar um adversário para o jogo. O bodegueiro só olhava secando copos, sempre tava secando copos, nunca o vi lavando, só secando com um pano de prato. Tinha velas em todas as mesas, no canto um casal tocando violoncelo um para o outro, cada um com o seu. Uma mulher pendurada por uma corda no pescoço bebia vinho. E um negro sem roupas pensava, não bebia, só pensava. O cachorro me perguntou se eu tomaria mais uma dose com ele. Respondi que sim, afinal, era uma noite comum. O bodegueiro tinha uma cabeça grande, não podia usar chapéu e nem óculos, mas nos serviu de conhaque e deixou a garrafa na mesa, disse que o cão pagaria a conta. E o cachorro confirmou com a cabeça. A música começou a ficar mais alta e agitada (o casal discutia). E o negro pensava tanto que chamou a atenção do homem grande que foi ao seu encontro enquanto o motociclista estacionava sua moto de três metros na frente do boteco e grita pelo bodegueiro que imediatamente leva um galão de gasolina pra ele, o homem grande se abaixa com o tabuleiro na mão em frente ao negro que pensava nu e perguntou se ele jogava xadrez, no mesmo instante as cordas do violoncelo se partem junto com a corda do pescoço da mulher que bebia vinho para o ponto de ônibus. O time de futebol finalmente deixou o banheiro vago, e o negro nu que pensava afirmou com a cabeça e pegou o tabuleiro das mãos do homem grande e arremessou com toda força na sua cara e diz xeque mate pro homem grande que começa a chorar mais que a chuva. Foi quando percebi que tava acabando meus cigarros, pedi pro bodegueiro um maço, mas ele tava botando fogo no motociclista que ria como criança e não me ouviu, enquanto a mulher que bebia vinho passou os braços em volta do pescoço do negro nu e foram ao banheiro, o casal com os violoncelos montaram em seus cavalos e foram um pra cada lado. Foi quando decidi voltar pra casa, mesmo não tendo o que fazer. Na verdade tenho, mas não tô afim... O cachorro de rua me acompanhou até um pedaço do caminho, sem falar nada. Minha mulher perguntou porque tinha voltado tão cedo pra casa. E eu respondi que o boteco tava chato. E ela me serviu um prato de sopa... E eu esqueci de comprar cigarros...

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MAIS UMA NOITE COMUM
Éver Ribeiro

Mísseis de chuva explodiam na calçada mau iluminada do boteco quando uma indistinta figura entrou. Uma barba e uma gravata. E um par de tênis rosas semi-encharcados. Sentou-se e pediu um conhaque ao bodegueiro como se fossem recentes velhos amigos. Passou os olhos pelo lugar com atenção mas não me reparou, curvado atrás de minha embriagez, entre um casal de violoncelos e um negro nu. Partilhou o trago com um cachorro de rua que sentou-se com ele e, calado, apenas bebericava e batucava um discreto 3/4 na madeira da mesa.

Uma mulher pendurada por uma corda no pescoço pegou meu copo de vinho mas antes que eu pudesse revidar, a enorme silhueta de um homem de feições talhadas à foice me intimidou e convidou para uma partida de xadrez. Fiz que não com a cabeça. Deixei o vinho pra lá e resolvi sair na chuva.

O primeiro pingo me acertou o olho. Depois, uma saraivada insistente tratou de ensopar o corpo todo. Tive tempo de ouvir os cellos se intensificando e destilarem nervosas melodias antes deixar os sons do buteco para trás e ficar apenas com o metralhar da chuva. Um homem apressado me parou e me entregou um panfleto. E disse que se alguém perguntasse por ele eu deveria dizer que não sabia de nada. Para minha segurança pessoal. Depois subiu numa enorme moto e sumiu entre as luzes da esquina.

Desdobrei o panfleto com cuidado, olhando ao redor para me certificar de não estar sendo observado. Nas minhas mãos, uma pasta se diluindo com a chuva carregava poucas palavras, em letras grandes e bem formadas: "queres enganar a morte? então cria". Olhei novamente para os lados, soquei a gosma celulósica no bolso e decidi correr até em casa. Não tava a fim. Mas achei melhor assim. Cheguei em casa e não havia nada. Nem minha mulher nem uma sopa quente. Antes, no caminho, passei num posto 24 horas e comprei cigarros. Mas esqueci de fumá-los.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

terça-feira, 20 de janeiro de 2009